Friday, August 6, 2010

Saturday, May 22, 2010

Towards a New Consonance

It seems that Contemporary Serious Music has been steadily moving back to consonance. It has also moved away from a certain kind of seriousness, and let out a sort of new humor to permit itself to go different directions at the will of the spirit and the wandering composer's mind.

We have stared at the abyss that Shoemberg left us and beyond. The complete tools and development of the tonal system have been undeniably broken, or revealed in its complex simplicity, all the DNA exposed to the California Sun.

I heard a story in an interview with Shoemberg's son: a Hollywood composer came by to ask for lessons to learn some tricks of the trade. And the master pointed Beethoven's complete works and said that he knew all of it, that's the trick.

In 1991 I met Msier Pierre Shaffeur, one of the creators of the Musique Concréte, maybe the first man to make a loop out of magnetic tape; for sure one of the first to create full musical compositions out of this basic idea. He was an old man already when we met, and we watched a film documenting his work early in the XX Century, all in black and white, I believe it was still on a 16mm projector. The he gave a class and then we went out and talked till late. At the end he said that he was back at the notes that he loves Bach. We all love Bach.

At some point we got the message and that abyss of post war trauma coincided with a moment of a change in awareness about our role in the planet and our responsibility with each other. But I diverge, we know history.

Movement towards atonal, complex, non repetitive, post-tonal, percussive, serial, super-organized, aleatoric, timbristic, microtonal, pythagorean, electronic. All different direction that share in common a certain revolt against the consonant triad in cadential progression that constitute the ground upon which the tonal system had been built.

Of course the law of unpredictability dictates that the unpredictable becomes predictable after a while, even if not memorable. Even if so complex as to defy the limits of perception and assimilation, the musical fabric became a texture that weaves and dances in a freak show of hysteric spasm and in inconceivable peace of immaculate single pitches in perfect democratic equalitarian balance, ideally unstable in front of us, hypnotically aiming at some point in the future, with disdain to the past.

And then back to the silence where Cage and Hiroshima left us.

And then back to one single note. The unison.

Unison. All together now, the wealth of the experience of the one pitch. Let's share in common union, the unison, and the brilliance of the harmonic series. The harmonic series is a fact of nature, we hear it, we enjoy it, it may be quantifiable, but the ratios do not translate the experience.

We went back to modes and the origins of the system as we know it, trying to retrace our steps and follow distant threads that might have led to different places. Exploring the unusual modes and superimposing them, or using the very familiar chords and repeating them in meditation, an attitude that removes the sense of tonal direction.

We need a new consonance - someone must have thought. A nostalgic return to the resolution of the dominant chord, or modal paths that aim not at predictable ends - our ears have changed. There are new realms that we want to tread upon.

Thursday, May 20, 2010

Friday, May 14, 2010

Sobre O Cheiro da Xereca

Pra encerrar com essa história, eu diria que:

Se o cheiro da xereca não tá bom:
é só lavar que fica nova.

E quem não gosta do cheiro da xoxota,
que cheire bem e bastante
do que quer que mais goste.

No país de Gregório de Mattos,
meu tio-avó.



Em prosa:

Pessoalmente achei boas as matérias sobre a ópera Tamanduá. Acontece que o texto colocou muita ênfase na questão da palavra "xereca" e isso foi colocado fora de contexto e sem ressaltar que se trata de uma paródia de um segmento de nossa música comercial e que esse é apenas um breve momento cômico em um trabalho denso de drama, poesia e musica.

Por isso tirei a xereca da obra. Tirei a palavra, mas não tirei o cheiro.

Acho que a ênfase nesse aspecto pseudo-sexual da obra se deve mais a uma certa hipocrisia brasileira do que ao texto em si. Tem mais a ver com a maneira como foi feita a leitura. Eu já tinha evitado entrar em conflito com essa mentalidade, quando transformei o texto na peça, e tirei as palavras "xereca", "xoxota" e "fuder". Achei que a obra ficava mais abrangente assim, pois pode ser apresentada tanto em escolas quanto para um público adulto.

É claro que essas são palavras completamente fora do nosso vocabulário cotidiano. Um compositor que pretende utilizar os ritmos da poesia oral brasileira contemporânea e assimilar esse nosso rico falar em música de concerto séria; esse compositor deveria ficar longe de vocábulos chulos. Afinal essas palavras que se nos fazem pensar em sexo quase não são utilizadas na nossa língua e é capaz que o público nem entenda do que se está falando. Sério mesmo.

Enfim, não pensei nem muito no assunto, já produzi discos de hip-hop nos EUA em que temos uma faixa "clean" e outra "dirty". Le-se na bula: "Se você considerar o vocabulário ofensivo, por favor escute a outra versão."

A ênfase ficou nas palavras "xereca", "xoxota" e "fuder", mas parece que há uma criança sapeca que quer ficar repetindo essas palavras, só pelo prazer reprimido de poder falar em voz alta, aquilo que só se menciona no escuro.

Mas nem tanto assim, talvez até por consequência dessa repressão ancestral, a sexualização dos meios de comunicação é tamanha que torna até complicado divulgar um trabalho que tenha algum caráter de seriedade. Em entrevista eu disse diversas vezes que há coisas mais importantes na obra. Mas é uma forma de lidar com um público que já está estabelecida pelos profissionais da imprensa: qualquer comentário com conteúdo sexual tem prioridade.

Por isso mesmo se fez necessária a composição de uma obra erudita falando sobre o "Cheiro da Xereca" pois essas palavras são as únicas que chamam a atenção da mídia brasileira. Era preciso que alguém trouxesse esse assunto a tona, para que exista uma reflexão sobre a responsabilidade de formação cultural dos veículos de comunicação.

Esse trecho de Dois minutos da ópera, essa paródia a que nos referimos apresenta um vocabulário básico e uma construção musical extremamente simples, um acorde apenas, como é característico do personagem retratado e do segmento da música de mercado que está sendo comentado. No contexto da ópera essa é uma cena que alivia a tensão acumulada.

Quando fizemos nossas primeiras apresentações de trechos da ópera Tamanduá, era um público de muitos brasileiros, mas ninguém manifestou repúdio ou choque por conta do vocabulário. Todos entenderam a intenção do texto e souberam o contexto.

Após nosso primeiro concerto, uma senhora brasileira muito velhinha veio me abraçar emocionada, dizendo que a muitos anos ela não tinha rido e chorado tanto. Perguntei se ela não tinha se assustado, me disse que não há como não entender o que se passa de jeito que a história é contada. Quem é artista vive por um momento assim.

É claro que no youtube tudo fica fragmentado, mas cabe ao jornalismo responsável colocar os dados em contexto. Com certos assuntos que ainda habitam o reino do tabu no imaginário brasileiro, é preciso de cuidado extra.

Por hora deixo o clipe no ar, pra quem quiser ver.

Nossa mídia está voltada para assuntos de exploração e banalização da sexualidade. Quando alguém escreve uma ópera que incorpora a linguagem da MPB ao repertório tradicional, o único fato jornalístico que parece relevante é uma palavra que foi usada.

Mas o que deve ser notícia? O que é importante para a nossa cultura e o nosso país? Será que a formula fácil de apelo sexual se tornou realmente a única formula lucrativa na indústria cultural? Ou há ainda pontos de resistência onde a originalidade da nossa cultura pode mostrar sua força?

Na ópera Tamanduá o gênero comercial de apelo sexual é apenas um. Temos samba, baião, xote, xaxado, maracatu, fado, cantos africanos e indígenas, e outras coisas que não sei de onde saíram. Tudo incluído em um panorama de nossa alma, de nossa espiritualidade sincrética e de nossas tendências musicais, inserindo a nossa cultura no corpus do repertório operístico. Isso é um dado novo, esse sim é o fato que deve ser ressaltado.

Os jornalistas sabem disso. Um começou a entrevista dizendo que tinha procurado "ópera brasileira" no Google e os resultados são poucos. Isso foi incluído na matéria, mas ficou enterrado sob a quantidade de espaço dedicado à questão daquela palavra específica. Mesmo porque basta mencionar certas partes do corpo para que todos virem crianças na escola, onde qualquer alusão à sexualidade causa tumulto e burburinho.

Veja bem: eu posso me divertir com bobagens tanto quanto qualquer outro, mas o espaço desproporcional na mídia que é dedicado a esse tipo de coisa tem efeito destruidor sobre o que possa existir de verdadeiro valor em nossa produção.

O que choca não é a palavra em si, mas o estranhamento do contexto em que ela é colocada.

Nós somos o país de Gregório de Mattos (o Boca-do-Inferno) e de Plínio Marco (da Navalha na Carne) para citar apenas dois.

Cabe mencionar que Jeffrey Gall é um dois maiores especialistas vivos em ópera no mundo. Se este homem escolheu a ópera Tamanduá para trabalhar com seus alunos, isso deveria ser um fato jornalístico a ser celebrado como vitória da cultura brasileira em um campo em que somos virtualmente inexistentes. Um testemunho do poder que nossa cultura tem de gerar novos paradigmas.

Eu gostaria de falar sobre a espiritualidade nessa ópera chamada Tamanduá, nossa opera brasileira, onde todos os santos convivem e a história não acaba com a morte, continua, com espíritos que nos visitam, e as mulheres são muito sábias, e há lavadeiras que vem lavar o sangue das ruas, depois que os homens se matam.

Há muito que poderia ser dito sobre o abraço do tamanduá, o abraçar que é tão forte característica da nossa cultura, algo tão fundamental e forte que evita guerras e cura doenças.

Espero ainda ter a chance de ter conversas muitas, boas e longas, sobre essa história que me veio assim, sem eu saber bem de onde, essa história pela qual tenho afeto mas não tenho apego, como se apenas a tivesse ouvido contar de alguém.

Há muito ainda que ser dito, tamanduá-bandeira, símbolo da nossa terra, então vamos adiante, falar sobre as outras coisas.

03 Packing Escher - 2009